segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O menino que não sabia amar


Era metade do ano dois mil quando os olhos daquela menina pousaram pela primeira vez naquele lindo menino. De uma juventude atraente. De um olhar acolhedor. De uma timidez apaixonante.
Estava ansiosa. Era o primeiro encontro. Arrumou-se e perfumou-se para ele. Pôs várias roupas, achando que nenhuma era perfeita pra ocasião, mas acabou por decidir pela que achou que causaria uma boa impressão. Discreta e sutil. Naquele dia ela vestira , só para ele. Mas ele jamais deveria saber disso.
A campanhia anunciou a sua chegada. E o ar faltou-lhe logo.
Abriu a porta como quem abre os braços para dar o melhor abraço. Ele olhou-a nos olhos, depois desceu o olhar sobre seu corpo inteiro e  disse-lhe simplesmente que ela era linda.          Sim, ele achou-a linda dentro daquela roupa que julgara simples demais para aquele primeiro encontro. Queria ter coberto o corpo de flores só para ele...
Sentiu uma alegria tão tola e gostosa. Aquele instante tinha um certo sabor de doce de leite... E cheiro de primeira vez.
Ele entrou, sentou, pegou  na sua mão, conversaram. Ela olhava-o com tamanha fixação, na intenção de gravar cada detalhe daquele menino tão lindo. Sabia que a qualquer hora ele teria que ir embora e já o queria mais ali.
Ele elogiava-a como um poeta. Pareciam versos os elogios que lhe destinava.
Aquele menino conquitou-a tão rapidamente quanto fora aquele encontro.
Dalí ao primeiro beijo passou-se um tempo de uma deliciosa conquista dia a dia. Ele bem soube ganhar pra si todo o apreço daquela menina, a sua atenção, o seu desejo.
Ela queria-o. Era certo.
Beijá-lo era de um prazer imensurável e único. Cada beijo parecia ser o primeiro e último. 
E eles pareciam visitar o coração um do outro quando uniam seus lábios.
Apaixonou-se rapidamente. Assim como quem abre e fecha os olhos...
Apaixonou-se pelas suas palavras ditas, escritas e até pelas silenciadas. 
Pelo seu carinho e cuidado. Pela atenção que lhe tinha. Pelo seu jeito de lhe inspirar despretensiosamente.
Ele não parecia ser de verdade. Era tão afável. Transmitia uma paz interior. Uma liberdade.
Logo ela o estava amando. Sim, amando como jamais havia lhe visitado o amor antes. Forte, muito e amiúde.
O amor daquela menina era tão exclusivista e tão expressivo. Ela amava-o com os olhos, com as mãos, com os lábios, com a alma, com versos e canções.
Ela falava-lhe de amor. Ele desconhecia a palavra, o sentir, as causas, as consequências.
Desconhecia as palpitações que o amor desperta, o suor e o arrepio.
Era como se amar lhe fosse inatingível. O amor, um completo desconhecido.
E a menina perguntava a si mesmo como um sentimento assim podia se ausentar de alguém.
Mas podia. O amor nunca havia marcado um encontro com ele. Nunca haviam se visto antes. Nunca se encontrariam.
Pobre menino lindo. Pois que ele não sabia amar.
Pobre menina apaixonada. Pois que estava condenada a amar sozinha. Por si e por ele.
Ele não sabia amar. Assim, sem saber.
Mentia que amava. Amava mentindo. Dizia “eu amo-te” como quem dava presentes. Caixas de presentes vazias. 
Era feito de mentira o amor que lhe declarava. 
E ainda assim ele sabia tão bem se fazer amar. Despertava um amor tão dele. Um amor que   se reafirmava dele a cada dia. 
Ela amou-o sem olhar para trás. Amou com um amor desses sem medida, sem fim.
Amou demais... Ainda que com medo. Sim, aquele amor a assustava.
Amar sozinha seria de uma solidão aparente, cedo ou tarde. Ela sabia. Mas ainda assim não conseguia recuar. 
Sabia que não contentaria-lhe por muito tempo um amor de mentira como o que ele lhe ofertava. Chegou a desejar esvaziar-se de todo e qualquer sentimento para sempre. Em alguns momentos desejava que o amor  abandonasse-lhe.
Mas não, o amor persistia. Ficava ali. Exatamente ali. Devia julgar ser ali o seu lugar.
O menino partiu. Ela mandou-o embora. Ele já devia querer ir.
Deveria declarar o seu amor de mentira para outros amores de verdade.
Mandou-o embora sabendo que mandava embora tudo o que tinha dentro de si. 
Aquela menina que quis viver para amá-lo, acabou sentindo-se morrer de tanto amor.
E ela só precisava  de lhe ensinar a amar. E isso a faria eterna. E eles se fariam eternos.
Ficou só.
Sozinha, com o maldito perfume perfeito que aquele menino havia escolhido tão bem.
Ela ainda sentia-o tão perto. 
Ela queria-o perto. Mesmo sabendo que nunca o teria de verdade.
Mas já era tão tarde. Ele já devia estar sob olhares e amores alheios.

E o amor, ah o amor, essa coisa desconhecida pra alguns, continuava tão íntimo daquela menina...


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Gosto de ser o centro das atenções. odeio a solidão e o escuro. obcecado por música, criativo, bom gosto, realista, diferente. não faço este blog para no fim receber um aplauso, ou uma palmadinha nas costas. muito menos o faço para terem pena de mim ou para me armar em coitadinho. escrevo para vos mostrar que sou como qualquer outro ser humano. sorrio, choro, sonho, acredito, sinto, grito, suplico, escondo-me e fujo. tenho medo da realidade então confio demais no silêncio.

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