Era frequente aparecerem homens para vir buscar crianças. As vezes vinham `a procura de mão-de-obra barata, outras vezes movidos por um desejo de fazer o bem. Os irmãos de Santo António alinhavam os órfãos e os homens andavam para trás e para a frente, a inspecciona-los. Era fácil perceber o que procuravam pela direcção do seu olhar. Geralmente, os seus olhos detinham-se nos rapazes de quatorze anos, os mais altos, os mais vistosos, os mais fortes. Depois desviavam-se para aqueles que mal tinham começado a gatinhar, para os meninos cambaleantes de dois anos - ainda puros e frescos. isso deixava os que estavam no meio - aqueles que já tinham perdido a gordurinha de bebé e os caracóis mas que ainda não tinham idade para serem úteis. Estes meninos eram geralmente mal-humorados, e tinham pouco a oferecer alem de estômagos vazios e grandes infestações de piolhos. Ren era um deles.
Não tinha qualquer memoria de um principio - de uma mãe ou pai, irmã ou irmão. A sua vida era simplesmente ali, no orfanato de Santo António, e aquilo que recordava começa no meio das coisas - o cheiro a lençóis fervidos e a lixívia; o sabor de papas de aveia aguadas; a sensação de deixar cair um tijolo sobre uma pedra, ver os fragmentos vermelhos espalharem-se, e depois usar os pedaços partidos para escrever na parede do mosteiro e ser espancado por isso, e ser obrigado a lavar os riscos com um trapo molhado e frio.
O nome Ren fora cozido na gola da sua camisa de dormir: três letras bordadas com linha azul-escura.
Bem, Lucas, és mesmo uma surpresa! Quero escrever aqui que conseguiste cativar a minha atenção com a tua escrita e que aguçaste, de forma definitiva, a minha curiosidade relativamente a este conto e a ti, enquanto escritor. Estou "em pulgas" para conhecer o destino de Ren!
ResponderEliminarSandra Silvestre
:o))